The Project Gutenberg EBook of Folhas cahidas, apanhadas na lama, by Camilo Castelo Branco This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org Title: Folhas cahidas, apanhadas na lama por um antigo juiz das almas de Campanhan Author: Camilo Castelo Branco Release Date: November 15, 2007 [EBook #23486] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK FOLHAS CAHIDAS, APANHADAS NA LAMA *** Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search) FOLHAS CAHIDAS, APANHADAS NA LAMA, POR UM ANTIGO JUIZ DAS ALMAS DE CAMPANHAN, E SÓCIO ACTUAL DA ASSEMBLEA PORTUENSE, COM EXERCICIO NO _Palheiro_. _OBRA DE QUATRO VINTENS_, E DE MUITA INSTRUCÇÃO, PORTO: TYPOGRAPHIA DE F. G. DA FONSECA, _Rua das Hortas n.º 152 e 153._ 1854. EU. Saibam todos quantos virem Este publico instrumento, Que surgiu mais um poeta Nos aloques do talento. Não pertenço á mocidade, Que fechou sem caridade Da velhice a pobre tumba. Não sei palavras d'estouro, Nem descanto em lyra d'ouro: Minha lyra é um zabumba. Eu, sou eu. Juiz das Almas, Nos bons tempos, que lá vão, Conheci que tinha uma Como poucas almas são... Campanhan! terra dos saveis! Que doçuras inefaveis Tens nos teus prados amenos! Ai! Maria da Cancella!... Cada vez que fallo n'ella, Sou Petrarcha... em fralda, ao menos! Dai logar á catarata D'uma lagrima que rola Pelas faces, como orvalho A aljofrar uma papôla, Respeitai a desynth'ria Desta enferma poesia, Que resiste á Revalenta! _Braz Tisana_, esse que diga, Em que estado anda a barriga Da Musa, nos seus outenta! Deixai que um velho recorde Aureos sonhos infantis!.. Campanhan, mansão das fadas Onde estão tuas houris? Ledas brisas que brincaveis Entre as pestanas dos saveis, Lindos saveis de coral! Onde estaes, em que paues Murmuraes, auras tafues, Vosso hymno angelical! Raios palidos da lua Alta noute, em ceo d'anil, Já não são os que argentavam Estes lagos de esmeril! Nem é este o pulcro savel Que me deu sorriso afavel D'entre os verdes salgueiraes! Nem aqui meu peito anceia Os carinhos da lampreia (E outras asneiras que taes). Quando eu era o mago enlevo Das fadas de Campanhan, Apanhava a borboleta, Que doudejava louçan. E, por tardes d'almo estio, Lá nas margens do meu rio Vi delicias de encantar.... --Pyrilampos, suspirando, Qual Camoens suspira arfando Os estos do seu penar. Ai! trovas da minha aldeia, Que saudades me doeis! Doçuras da minha vida, Quando eu cantava os reis! Viola d'Antonio Pinto, Onde estás, que inda cá sinto O gemer dos teus bordoens! Minhas chinelas côr d'ovo, E meu par de sócos novo, Tão rico d'inspiraçoens! Lá vai tudo! E minha alma Erma, esteril, sinto aqui.... Como o lyrio enruga o calix A fronte calva pendi! Poeta da lyra amarga, Vérgo ao peso desta carga De descrença e maldição! Lacerado em meu orgulho, Quero o sangue, o serrabulho Desta infame geração! E, depois que a minha lousa Parta d'um raio a centelha, Hão-de ouvir ranger meus ossos Como carruagem velha. E a mortalha ensanguentada Como a tunica manchada Do Cesar de Campanhan, Ha-de ser mostrada ao povo, Ha-de ouvir-se um grito novo Nas praias do Gengis-kan! AOS BAROENS. Amigos! sinceridade! Não sejamos todos tolos; Deixai vêr os vossos rôlos De brasoens. Ninguem disse ainda ao certo Onde vão, donde vieram Os baroens. Dizem velhos alfarrabios Que os baroens da idade d'ouro Davam tapona de mouro, Fanfarroens! Nesse tempo eram _crusados_, Hoje fogem dos _cruseiros_, Os baroens. Os de então na Palestina Eram rijos e potentes; Mas os d'hoje são valentes Nos certoens. Quem domina as vastas tribus Dessas plagas africanas? Os baroens. Quem envia, mar em fora, As esquadras dos _Trajanos_, D'archejantes e ufanos Galeoens? Quem envia _Guerra_ aos barbaros, E lhe algema os pulsos livres? Os baroens. Digam lá o que disserem Contra os _crusados_ da moda, Sois os grandes deste reino, Meus baroens!.. sabeil-a toda! «Carne humana!! escravaria!!! Crime atroz!!!!» são palavroens. Chia a imprensa? ha-de calar-se... Sabeil-a toda, baroens! Vossos pais quando vieram De Figueiró para aqui, Quem diria... vendo vil-os Como eu chegal-os vi!.. Era assim: via-se um mono De jaqueta de cotim, E calças de estopa grossa E pernas côr do carmim. Trazia sócos ferrados, Em que pés!.. Deus nos accuda!.. Lenço vermelho amarrado Na cabeça ponteaguda. Vosso avô vinha com elle, E gemia derreado Sob um saco de batatas Do patrão mimo adorado. Vossa avó, de pé descalço, Traz canastra com toucinho, Pão de broa corpulenta, Borracha de verde vinho. Inda hontem eu vi isto!.. E vossês sus patuscoens, Devem espantar-se comigo De serem hoje baroens! Querem de graça um conselho? Não fallem, que faz tristeza, Vêr o raso da toleima A que desceu a nobreza! Burros ficam sempre burros, Embora tragam selim, Cravado de diamantes E estofado de setim. O brilhar dessas commendas Não vos muda a condição. O instincto vos arrasta Para o covado e balcão. HYMNO AO HECKER SALOIO. Senhor Fontes Pereira de Mello, Que sois Pitt, e _pitada_ tambem, Já que tudo metteis n'um chinelo A cantar-vos a banza aqui vem! Senhor Fontes! Sois de Lysia O que ninguem inda foi! Quem dissera que tão perto D'um Sangrado existe um heroi! Longo tempo o cultor da batata, Senhor Pitt, por vós suspirou. As abob'ras meninas murcharam, E a mesquinha cebola grelou! Mas creaste um ministerio D'agricultura, ó portento! Era um gosto vêr o grêlo Sob o imperio do Fomento! E o repôlho, a cinôra, o coentro Espontaneos brotavam nos montes; E nas folhas da côve tronxuda Viu-se escripto: «Gloria ao Sôr Fontes!» Senhor Fontes! vosso nome Pelas hortas se dilata! Como o Cesar é na _Fabia_, Sois salvador da batata! Carangueijos os lusos viviam Desterrados n'um solo infeliz!.. E, comvosco, quebrar inda esperam Nos caminhos de ferro o nariz. Senhor Fontes! este povo Vossa gloria proclama, Quando viaja enterrado Té ao pescoço na lama. Era triste esse tempo d'outr'ora Em que um homem quebrava um quadril, Nessas quinas d'estrada de pedra Onde agora fumega um carril! Á vista disto, Sôr Fontes, (Á parte censuras tolas) O paiz quer-vos na fronte Uma restea de cebolas. Quando o Porto vos deu quatro patos, E de forno o arroz competente, Quiz mostrar-vos que a gloria é um sonho, Quando o ventre não anda contente. E comestes, senhor Fontes, E fizestes muito bem; Colbert, Necker, e Pitt Comiam patos tambem. Quem nas polkas mostrou mais donaire? Quem nas walsas mais quebra a cintura? Quem melhor joga a tibia flexivel? Quem compete comvosco em tesura? Senhor Fontes, dous instinctos A natura em vós relata; A não serdes o Fomento, Devieis ser acrobata. _Beatus venter qui te portavit,_ Diz a patria na sua expansão! Desde o Vistula ao Douro retumbam Algazarras de rouca ovação! Gloria, gloria ao rasgado Fomentador immortal! Modelo dos bons bigodes, Permanente carnaval! O DROPP. Aranha de pau de pinho Caranguejola, que és? És o dropp; ora o dropp, É uma cousa (diz Pop) Sem ter cabeça nem pés. Visto isso; temos dropp; Ninguem tenha á barra medo. A asneira não é tão calva; A gente sempre se salva; De que modo? isso é segredo, Os praguentos já resmungam Contra aquelle immenso trem; Dizem que é força acabar, Não só nas furias do mar Mas nas do dropp tambem. Este dropp é um segredo, As finanças um mysterio. Vêdes n'aquella gaiola, Uma parva cabriola, Imagem do ministerio? Navegantes! acautelem-se! Em posição desastrada Empreguem maior cuidado Que lhe não venha ao costado Uma tremenda caibrada. Aquelles paus são synistros Como o cavallo de Troya; Tudo aquillo é muito serio; Tem não sei que de funereo Dos carroçoens do Lagoia! Tanta tabua consummida Nessa funeraria asneira!.. Não 'stava ahi um sujeito Com tanto dropp já feito, Manoel José d'Oliveira? _Economia_! sarcasmo Deste ministerio-dropp, Que cravou no calcanhar A espora que faz andar As finanças a galope! Sou de voto que se dê Ao dropp um uso real: --Seja a estufa, com recatos, P'ra guardar os cinco catos Do ministerio actual. O SEU A SEU DONO. A Cesar o que é de Cesar, Aos velhos o que é dos velhos! Quem da crytica se encarga, Deve andar estrada larga E não metter-se por quelhos. Sou assim! E mais sou velho Mas a verdade é tambem, Custe embora a quem custar, A verdade hei-de-a fallar Seja em mal, ou seja em bem. Epaminondas Tebano, A _Concordia_ e o _Nacional_, Nem a rir disseram petas: Eu tambem como as gazetas, Sou da honra o pedestal. Não consinto que se diga, Que só lavra a corrupção Nas entranhas dos mancebos. Eu conheço muitos gebos Corruptos de profissão Quem quizer venha ao _Palheiro_ Desta nossa Assemblea, Ha-de vêr linguas farpadas Em bocas já desdentadas Maculando a honra alheia. Ha-de vêr velhos devassos Como em lubrica orgia, Já vergados nas cernelhas, Memorando infamias velhas Com satanica alegria. Ha-de vêr o extincto frade, C'o a bochecha rubra e gorda, Acerando o epygramma, Nem se quer poupando a _ama_, Que lhe faz em casa a sôrda. Ha-de vêr o millionario Brazileiro, com mil tretas, A contar, com sujas cores, As lendas dos seus amores Com as _suas_ trinta pretas. Estes taes são os que infamam A mocidade infeliz! São estes em cuja tez O oleo da estupidez É da vergonha o verniz. A mocidade não pode Vencêl-os, não pode, não! Dominam, são respeitados, Representam vinculados Os tempos da corrucção. Nascidos, quando por terra Os homens lançaram Deus; Tem só fé no sensualismo, E escarnecem com cynismo, As crenças filhas dos ceus. Gangrenado o corpo e alma, Sem saber, e sem piedade, São authomatos de barro, Que resistem ao catharro Pr'a vexar a humanidade. Onde existe a virgem pobre, Que de maguas vive cheia, Lá vai ter uma mensagem Da senil libertinagem, Que o pudor lhe regateia. Perguntai nesses alcouces De miseria e compaixão, Quantas victimas da fome A deshonra ahi consomme, E de quem victimas são. Heis d'ouvir factos nojentos Destes velhos que se arrastam Sobre a lama das torpezas, Das luxurias e villezas Em que, cynicos, repastam. Velho sou, bem alto o disse; Mas deshonro-me de ser Desta geração de velhos, Em que os moços tem espelhos Onde infamias possam ver! Mocidade generosa! Os teus crimes, tem nobreza; Quando falla a consciencia, Nem negaes a Providencia, Nem manchaes a natureza. Elles não; sempre atufados Em nojentos tremedaes, Crêem só no seu dinheiro, No cavaco do _palheiro_, Na barriga, e nada mais. A Cesar o que é de Cesar, Aos velhos o que é dos velhos! Quem da crytica se encarga, Deve andar estrada larga, E não metter-se por quelhos. CONTO MORAL. Um _attaché_, que vivera Em Pariz uns quatro mezes, Voltando á patria mesquinha, Não roubou nem palavrinha Aos seus amigos francezes. Quando entrou nos patrios lares, Já não era o mesmo filho; Sua mãe dobando estava, E o _attaché_ perguntava Que nome tinha o sarilho? Desceu á loja onde estava O honrado pai ao balcão. E mal dera ainda um passo, Quando viu que estava um engaço Estendido alli no chão. Ora, o engaço tinha uns dentes, Onde o tolo põe um pé, Quando ao pai enthusiasmado, Perguntou todo anafado: _Este engarilho que é?_ Vai o cabo levantou-se, Que assim era de suppor; Vem direito ao infeliz Quebra a ponta do nariz, Do futuro embaixador! MORAL. Não venham fazer-se finos Á patria os _attachés_, Quem vai tolo tolo volta, Inda que traga uma escolta De anedoctas dos _Cafés_. EPYSTOLA AO EXCM.^o VISCONDE DE ATHOGUIA EM DUAS VIDAS; MINISTRO DA MARINHA DOS TRES BRIGUES, E DOS NEGOCIOS ESTRANGEIROS... AO SENSO COMMUM. Illustre paspalhão, pasmo dos orbes, Nata da estupidez, alcool dos parvos, De Campanhan o bardo te sauda! Eu nunca fui sentar-me á tua porta, Mendigando mercês; nunca os meus cantos, Fedendo ao macassar da vil lisonja, As nedeas ventas incensar te foram! É livre a minha voz: creiam-me os povos! Nobre feudo pagar aos grandes parvos É do bardo a missão. A minha é esta. Ha muito que eu de ti pasmado andava, Contando á minha Antonia, e aos pequenos, O nome que no peito escripto tinha. Em casa do Francisco da Thomasia Os teus discursos li, Visconde incrivel! N'aquellas chatas caras que me ouviam, Vi faiscas saltar de enthusiasmo. Bebêmos-te á saude, a rego cheio! E, no excesso do goso, os teus amigos Não podiam lamber-se... eram uns cachos! Tu, mais novo que o neto, ousado Gorgias, Ha pouco trituraste os cabralistas No rijo almofariz do craneo ôco. Salvaste Roma, ó ganço!.. se não grasnas Piravam-se os taes páos[1] e a Lusitania, Viuva dos seus páos, ia-se á mingua! És o Curcio das lonas, que remiste[2] Do jogo infame da Albion perversa A patria dos Affonsos e Affonsinhos! A divida fatal, chamada externa, Saldaste-a c'o producto dessas chapas, Em que fica chapada a crassa asneira, Eterna viscondessa d'Athoguia! Do _Conde de Thomar_ se intitulava O patacho fatal, terror dos povos! Fulminaste o patacho! A Europa accesa, Pedira-te energia audaciosa. Passaste heroica esponja sobre o nome, E fizeste callar a voz da Europa! Ó Jervis! tu nem sabes quanto vales! Que o diga Campanhan, Valbom, S. Cosme, Onde eu pude chegar, e a minha Antonia. A machado e eixó, de páo castanho, Um busto construí: era o teu busto. Teu nome eternisei, nome que teve Um _u_, maldito _u_, que tantas febres Na mente escandecida te abrazára! Não sei se diga mais, palavra d'honra! Com esta não te enfado mais, visconde. Não desdenhes vaidoso a offerta humilde, Que mesquinho reptil aos pés te arrasta. Recebe dusia e meia de lampreias, Cosinhadas por mim; são de escabeche... A proposito, amigo, ha quanto tempo Conservas de escabeche a intelligencia? [1] S. exc.^a mandou vender os páos, porque deu na melgueira d'uns empregados, que os regeneravam á surelfa, com grave detrimento da marinha portugueza. [2] S. exc.^a vendeu umas lonas, cujo producto fez subir os fundos em Londres, e permittiu a construcção de trinta navios de guerra, com que s. exc.^a espera «sulcar as salsas ondas d'Amphitrite,» segundo a gravissima opinião do snr. J. M. Grande. O MINISTRO E O JORNALISTA. (_Dealogo_). MINISTRO Eu vim chamado ao leito desta patria Matava-a a corrupção, e eu salvei-a! Se prostrada jazia, ou talvez morta, Qual Lazaro da campa, alevantei-a! JORNALISTA De certo levantou Vossa Excellencia! Que brade embora a vil opposição... Esquálidos vestigios de gangrena Bem profundos deixou a corrupção. MINISTRO Se crê nessas doutrinas luminosas, E quer ser prestadio a Portugal, Acceite a empreza honrosa, augusta, e nobre, D'expol-as, sustental-as n'um jornal. JORNALISTA Empreza honrosa é; della me ufano! Irei apostolar o credo novo; Direi ás multidoens verdades francas, Será o meu jornal jornal do povo. MINISTRO Bem sei que da defeza é árdua a luta... Odeia-me, sem causa, esta nação... Embora! na grandeza dos serviços Compete ao defensor môr galardão. JORNALISTA Bem sei quantas calumnias forja a intriga... Já dellas foi manchado o grande Decio. Quizeram macular Vossa Excellencia Chamando-lhe espião, rival de _Mecio_! MINISTRO (_Commovido, e esfregando os olhos com cebola_). Bemdito seja Deus! só elle sabe As nobres intençoens de tal acção! Por honra, por nobreza, e por caracter, De certo fui, meu caro, um espião! JORNALISTA Não é lá grande feito de virtude; Mas cumpre que eu me saiba haver na luta. Convém negar o facto, ou confirmal-o? Bem sabe que é de crêr haja disputa. MINISTRO (_Limpando os oculos_). Eu lhe digo, senhor, a patria exige Medidas uteis, providencias, factos. Accusaçoens banaes, não lhes responda; A pedra é livre em mãos desses _gaiatos_. JORNALISTA Pois bem! sou desse voto, ei-de julgal-as; Accusaçoens banaes, pretr'idas, nullas; Mas dado o caso infausto de citarem Não sei que transacçoens com certas bullas? MINISTRO (_Enternecido_). Responda-lhe que eu fui proscripto, errante... E quando ao ninho caro alfim tornei, Não só não tinha um pinto pr'a despezas, Mas nem a livraria, em casa achei. JORNALISTA Pois bem, triumphará Vossa Excellencia... Agora, se lhe apraz... sim... cada qual Emprega neste mundo, como pode, O seu... ou pouco ou muito cabedal... MINISTRO Intendo... quer dizer que não dispensa Além do beneficio, uma pensão... É justa, a quem trabalha a recompensa... Quer cincoenta mil reis? pagos, serão. _Cinco mezes depois._ JORNALISTA (_Escrevendo_). Senhor ministro, eu não posso Este jornal sustentar Tenho esp'rado, em vão tres mezes, Não me acabam de pagar. Vossa Excellencia me disse, A vinte e tres de Janeiro, Que no Governo Civil Recebesse o meu dinheiro, Nem um chavo! e os assignantes Abandonam-me o jornal, Porque defendo um governo Vergonha de Portugal. Se não manda, quanto antes, Senhor ministro, as mesadas, Com pesar vou abraçar-me Ás outras crenças passadas. MINISTRO (_Só_). Á vista disto, não ha mais fugir-lhe... Pouco me serve... mas é pobre moço!.. Fazem-me pena quando assim os vejo... Não ha remedio senão dar-lhe um osso. A D. EUSEBIA DA ASSUMPÇÃO, ALMA DE VACA. Noitebó que esvoaçaste No meu ceo d'alva illusão; E na chaminé pousaste Deste ardente coração; Que mal te fiz, pulga d'alma, Que mordes, sem compaixão? Dona Eusebia, gança amada, Que picaste a minha flor, Tão do intimo orvalhada Pelos prantos desta dôr, Dona Eusebia não me piques Esta alcachofra d'amor! Gata brava, não me bufes Esta luz d'aspiração; Por quem és, tu não me atufes Dona Eusebia d'Assumpção, Nos abysmos insondaveis D'assanhada ingratidão! Tu chamaste-me pangaio, Quando eu quiz um riso teu! Fulminou-me um impio raio, Minha aspiração morreu! Ai! Natercia de chinelos, Serei eu _pangaio?_ eu!! Tens no peito ingrata, um chato Coração de melancia. Tanto tempo fui teu gato, Gato d'amor e poesia! Dona Eusebia, alma de vaca, Morras tu de hydropesia! AS LITTERATAS. Paes de familia, hybridos caturras, Escrevo para vós! Se tendes filhas Com sestro massador de fazer versos, Dai-lhes p'ra baixo, como eu dou nas minhas! Eu vejo serigaitas, mal lavadas Do almiscar infantil de seus cueiros, Fazerem relaçoens _c'os raios pallidos,_ _Da estrella matinal, do lago lympido,_ _Das auras ciciantes, e da aragem,_ E d'outras semelhantes trampolinas, Que vós não entendeis, nem eu, nem ellas. Espevitam-se todas estas gaitas Da musa melancolica das noutes. Mal sabem onde tem a mão direita, Não viram do nariz um palmo adiante, E fallam de _paixoens intimas d'alma,_ _De crenças desbotadas, e de flores_ _Fanadas ao soprar da leda infancia._ Acaso comprehendeis, paes de familia, Da nova geração destas piegas A triste chiadeira que nos fazem? Dai-lhes p'ra baixo como eu dou nas minhas! Não tendes uns fundilhos nas cilouras? Não tendes roto o calcanhar da piuga? Não tendes uma estriga, um fuso, e roca? Mandai-as trabalhar; dai-lhe a sciencia Precisa para o rol da roupa suja. Se lhe virdes romance, ou essas cousas Chamadas folhetins, sobre a _toilette_, (A _toilette_, meu Deus! por causa d'ellas Perverteu-se a dicção do nosso Barros!) Dai-lhes p'ra baixo como eu dou nas minhas! Quem é o parvo que espozar-se queira Com litterata alambicada e chocha? Sentada n'um sophá, sapho saloia, Em languida postura requebrada, Se eu visse a minha Antonia! ai que panasio, Que revez de careca eu lhe pregava! Paes de familia! não achaes bem triste Entrar um cidadão em sua casa, Cansado de lavrar o pão da vida, E vêr sua mulher repotreada Na othomana gentil, lendo romances? Pobre marido quer fallar d'uns frangos Que baratos comprou, e a litterata Pergunta-lhe se leu _Kossuth e os hungaros_! O parvo franze a testa aborrecido, Procura entre os lençoes um refrigerio; Mas, no excesso da dôr, rasga as cilouras, E no mundo não tem mulher ou anjo Que lh'as saiba coser!.. ai do mesquinho! Onze horas já são. O bom do homem Tres vezes já pediu café com leite, Apertam-no negocios; mas em balde Pediu com desespero o tardo almoço. A litterata esposa inda ressona, Pois vira despontar a estrella d'alva Nos rubros arreboes dos horisontes, E, inspirada, fizera quatro quadras, Ardentes de ideal romantecismo. «Café com leite!» brada em vão tres vezes, O bode expiatorio dos romances... «Café com leite» os eccos lhe respondem, Que a Stael d'agua doce inda ressona! Maridos imbecis! eu vos lamento! A culpa não foi vossa! Aos pais a imputo. Madame Podestá dizem que ensina Grammatica, rethorica, hidraulica, Mecanica, gymnastica, estetica, E chymica, e botanica, e plastica, O arabe, o sanskrit, a geographia, A prosodia, a syntaxe, industria e canones, E muitas cousas mais, como th'rapeutica. Será tudo mui bom; mas eu aposto Que o remate de tantas luzes juntas É capaz de fazer perfeitas tolas As muitas que lá vão com seu Juizo! Paes de familia! tendes filhas d'estas? Dai-lhes p'ra baixo, como eu dou nas minhas! Um pai eu conheci, que nunca soube O seu nome escrever sem quatro asneiras, E mandou ensinar francez á filha. A filha conseguiu, passados annos, Uma cousa fallar mui duvidosa Que os francezes, talvez, diriam tartaro! Mas seria francez, o caso é este: Um dia estava o pai, e ella, e um outro Janota almiscarado, conversando. De improviso a menina a lingua solta Em barbaros grasnidos que atarantam A cabeça do velho. O «petimetre» Responde em algarvia semelhante. O pai, no centro delles, era um parvo Gemendo sob o peso do ridiculo... Mas lá vai o peor do caso infausto! Ao dar da meia noute desse dia Cumpria-se a promessa contratada Na presença d'um pai, que bem podera Embargos de terceiro inda intentar Se fosse em portuguez organisada A injusta petição do supplicante. Pais de familia, vossas filhas fallam Italiano, francez, gallego, ou turco? Dai-lhes p'ra baixo como eu dou nas minhas. _UM JANTAR DE BAROENS._ INVOCAÇÃO. Musa da sopa e do cosido, inspira-me! Pandega musa, que sorris ao vate Em môlho d'açafrão, e de tomate, Um cego adorador... achaste em mim. Transforma o estro meu em lombo assado, Da minha inspiração faz um podim. Tu filha dos baroens, musa do unto, Nasceste na cosinha entre caçôlas; Saudaram-te no berço alhos, cebôlas, Do cominho tiveste uma ovação. Depois, trajando gallas de toucinho, Eu vi-te nas bochechas d'um barão. Namorado de ti, fiz-te meiguices, Por de traz d'um pirum, e tu de lá Sorriste-me atravez da nedea pá De vitella gentil, rica de arroz! Ai! era!.. e nem eu sei se foi mais linda Aquella gorda pata... que te poz! Tu fizeste de mim novo Claudio, Inspiraste-me fé no rodavalho. Traguei indigestoens, arrotos d'alho, _Bernardas_ na barriga supportei. Tomei chá de marcella... e, em premio d'isto. O teu auxilio, ó musa, não terei?! I Dentro e fóra illuminado O palacio d'um barão, Fulgurante representa Um enorme lampião. Jorram lympidas vidraças Sobre as populosas praças Ondas tremulas de luzes. Vai lá dentro grande goso, Nesse alcaçar radioso Do barão dos Alcatruzes. D'Alcatruzes é chamado, Porque, sendo ainda moço, Muitos baldes d'agua fresca Dizem que tirou d'um poço. Nenhum outro mais destreza Revellou na ardua empreza. De puchar acima um balde. Um que seja tão robusto Ha-de vir mui tarde e a custo, Do concelho de Ramalde. É barão; não vale a pena Discutir-lhe os nobres feitos. É barão dos Alcatruzes Já tem pagos os direitos. Inda é mais; pois além d'isto É commendador de Christo Com bastante indiscripção. Mal diria Christo outr'ora, Que seria posto agora No peito d'um vendilhão! E mais elle, que os tocava Com terrivel azorrague!.. Mas os Judas vendem Christo, Ponto é haver quem pague. E o barão dos Alcatruzes Neste seculo das luzes Tambem fez de farizeu: E, tambem, se é necessario, Representa de Calvario, Onde a cruz se suspendeu. II. N'um salão vasto, opulento, Um banquete se vai dar; Nos christaes reflecte o ouro, A fulgir, a scintillar. Os rubis, e a côr da opala Transfiguram esta sala Em olympicas mansoens. Mas a alma cae por terra, Quando vê que alli se encerra Duzia e meia de baroens. Da terrina a caudal sopa Em silencio é devorada. Só então fingiram d'homens, Porque não disseram nada. Mas venceu a natureza! Um barão por sobre a mesa Estendendo o prato, diz: «Ó compadre! isto é qu'é bô! Venha sopa, e acabô! Cá de mim, torno á matriz!» O barão de Cogumelos Junto estando á baroneza, Que se diz dos Sacatrapos, Quiz fazer-lhe uma fineza. Arrastou p'ra junto d'ella Um pirum, e a cabidela No prato lhe despejou. E lhe diz: «cá isto é nosso; Cousa que não tenha osso É p'ró estamago, e arrimou!» Outro diz á gorda esposa, Que bem perto de si tem: «Bai-lhe bebendo po'riba, Ó mulher, come-lhe bem!» Este pede ao seu visinho: «Que lh'atice bem no binho Qu'é da belha companhia.» Diz aquelle ao seu fronteiro: «Que lhe chegue um frango inteiro E biba a sancta alegria!» III. As saudes já começam. É um gosto agora vêl-os. Estas caras representam Tomates de cotovêlos. E, a travez do escarlate Do legitimo tomate, Transsuda um oleo que brilha, Cada qual tem as orelhas Encarniçadas, vermelhas Como as azas d'uma bilha. Pega no copo, e exclama O barão das Pimpinelas: «Vito serio! um home fala Sem preamblos nem aquellas! Á saude e alegria Desta bella companhia E com toda a estifação! P'ra que todos cá binhamos Estifeitos como bamos De casa do sôr barão!» E os hurras retumbaram Pela sala do festim. Balthazar nos seus banquetes Não ouviu gritar assim! Sobre a mesa deram murros, Saudaram com grandes urros O barão dos Alcatruzes; Mas alguns com magua sua, Já cuidavam ver a lua, Não podendo vêr as luzes. Mas, entre elles, um existe, Litterato em seu conceito. A palavra pede, e reina Um silencio de respeito. Elle diz: «Risonhas gallas Que refrangem n'estas salas Repercutem, symbolisam Acrimónias insoluveis, Nos acrósticos voluveis D'epopeas que eternisam. Pandemonios exhauriveis D'indeleveis congruencias. Requintados se escurecem Nos imporios das sciencias E liberrimos se escudam Nas façanhas que transsudam Em fantasiosas luzes. E, por tanto, a mais alludo, Quando, fervido, saudo O barão dos Alcatruzes!» Succedeu o grito ao pasmo! Nunca se viu cousa assim! O orador foi abraçado Com furor, com frenezim! «Isto é qu'é!» dizia um, Convertido em rubro atum, Betarraba até não mais. «Viva Cissro!» outro dizia, Despejando a malvazia, Com grasnidos infernaes. IV. E a pandega findou. Mas alta noute, Disseram-nos fieis informaçoens; Que grande movimento ouve de tripas, E grande salto deram as torneiras Das pipas convertidas em baroens Ou antes dos baroens tornados pipas. ELOGIO FUNEBRE _A uma dama, prodigio de fecundidade, que dá á luz tres romances, por semana, nos jornaes do Porto._ Atafona de romances, És um carril a vapor! Romantisas quanto achas, E nos folhetins encaixas Com satanico furor. Cornocopia da toleima! Nós fizemos-te algum mal? Tu não sabes, escriptora, Como zombam lá por fóra Das lettras de Portugal? Não lucrara mais a patria, E lucráras tu tambem, Se fiasses n'uma roca. Com primor, a massaroca, Que desprezas, com desdem? Não te fôra mais airoso Bispontar bem uns fundilhos Para em tempo competente Um remendo pôr decente Nas cuecas de teus filhos? Mal tu sabes que sciencia Tem da meia o calcanhar! Talvez penses que o romance É mister de mais alcance Que nas meias pontos dar!.. Eu por mim antes quizera Nunca ter lido Camoens, Nem romances d'uma tola, Que vestir rôta a ciroula, Ou camisa sem botoens. Accredito seja um dia A mulher emancipada; Ha-de então ser regedora, Escrivan, e contadora, Eleitora, e deputada. Nesse tempo, se existisses, Tendo em vista essa pericia Com que ostentas teu saber, Que logar podias ter? Eras cabo de policia. Tenho pena, quando penso Que serás formosa e meiga, E encontro os teus escriptos Nos embrulhos dos palitos Do toucinho, e da manteiga! Faz-me dó, pois tu bem podes Bordar lenços de cambraia Com bonito _petit-point_; E, não sendo aqui ninguem, Podes, ser tudo na Maia. EPISTOLA AO VISCONDE DE QUEBRANTOENS. Instrumento do ceo, desceste ao Porto, Corajoso mancebo, que desandas Nos borlistas fataes sopapo ingente! Oppresso longo tempo, ahi gemera Nas entalas crueis d'um camarote O misero assignante! Amargo calix Em silencio tragava, ouvindo os passos Do acerbo massador, impio borlista! As notas de Rossini eram-lhe espinhos, As fusas de Bellini eram-lhe fusos Que o intimo das visceras lhe espetam! E os duetos em _fá_ do Machbet Eram-lhe cantos de raivosas górgonas! O ferro fez-lhe vêr visoens do inferno! A propria Jeny-Lind se cantasse, Nesse palco, talvez, aos olhos d'elle Não fosse mais gentil, que a _Cholera-morbus_[3] É que a larva immortal do pesadello, A sombra do borlista ergue-se impavida, Synistra, nos umbraes do camarote! Derreado e servil no corpo e alma, Arrasta-se o borlista em cortesias, Gagueja cumprimentos requentados, Recebe em cada noute affrontas novas, E, cynico, sorri, graceja sempre! Mas cerram-se ao borlista os horisontes, Apenas surges tu, Pedro-Eremita, E aos povos um pregão de guerra envias! De toda a parte bellicosa ferve Raivosa indignação contra os _Bernardos_.[4] Aqui batata pôdre o povo ajunta, Além prendem-se em páos bexigas tumidas, E cebola grelada em grande escala De Freixo de Numão o Porto importa. Se no livro fatal d'altos destinos Proscripta a extincção foi do borlista Da borla a abolição a ti se deve, De ti, visconde emana o nobre impulso! Em nome dos sensiveis assignantes, Recebe o galardão que o Porto envia Ao caro filho seu que a patria salva Do typho mais cruel--_typho-borlista!_ [3] É uma cegonha, cousa duvidosa entre a forôa, e a giboia, que canta entre as coristas. [4] Quem não conhece o sr. Bernardo, digno Achiles do _Barriense_? IMPRESSOENS D'UM PASSEIO, NO _JARDIM DE S. LAZARO_. Que delicias não encerra Esta bem fadada terra N'um domingo, em mez d'Abril! Nem eu sei se a natureza Deu mais pompas a Veneza, Que no mar reina gentil. Não na ha terra mais linda Nem sonhal-a eu pude ainda Nos meus sonhos da manhan. Uma só os dons lhe abate, És só tu, patria do vate, Donairosa Campanhan! Mas, aqui, terra das auras, Espontaneas brotam Lauras Por entre sacas d'arroz. E, quaes ferteis cogomelos, Nascem Dantes de chinelos, E Petrarcas d'albornoz. Tudo vai do ceo formoso, Que derrama ondas de goso Nestas almas d'alfinim. Ouem não viu anjos de saia, Serafins d'alva cambraia No fantastico _jardim_? Inda, ha pouco, eu vi delicias Invejei doces caricias, Que lá vi... oxalá não! Entre tantas a mais bella, A rainha... ai! era ella... D. Eusebia d'Assumpção! Ella sempre!.. espectro! larva Por quem fiz esta alma parva, Por quem dei cavaco até! E tão linda!.. impia cegonha, Tão folhuda!.. era uma fronha, Um travesseiro de pé! E, tão tolo, eu quiz fallar-lhe Quiz mysterios revelar-lhe Deste amor, desta agonia; Quiz dizer-lhe em voz terrivel, Com rancor inconcebivel: «Passou bem? que bello dia!» Não me ouviu, virou-me a cara, E eu jurei vingança avara, E a vingança... oh! eide-a ter! Não te rias, lagarticha, Eide atirar-te uma bicha, Eide vêr-te a fralda a arder. Feito o horrivel juramento, N'aquelle acerbo momento Dona Eusebia me esqueceu!.. Procurei entre outras flores Nova fé, novos amores... Poderia achal-os eu? Dona Eustaquia era formosa, Tinha os dentes côr de rosa, Meigos olhos de marfim; Tinha o collo verde-gaio, Lindos braços cor de paio, Lindas mãos de marroquim. Mas Eustaquia não podia, Conceber-me esta poesia, Que me escalda o coração! Ao pé d'ella estava um grulha, Um rival, um gêta, um pulha, Um palerma, um pelitrão. A pretexto de meiguices, Vomitorio de sandices Era o tal... que eu não direi... O que eu fiz foi pôr-me ao largo, Pois luctar é sempre amargo Contra um estupido de lei. Outra vi; julguei-a vaga; Era Dona Saramaga, D'olhos garços de matar. De cabello em grande rôlo, Sua testa era um rebôlo, Mas rebôlo de encantar! Esta sim: ouviu-me as fallas, Conheceu que estava em tallas Meu dorido coração. Deu me affectos desvellados, Deu-me quatro rebuçados Com sensivel emoção! Perguntou-me se a Geordano Ficaria para o anno, Ou iria p'ra Pariz. Respondi-lhe que a cantora, Por em quanto, era senhora Da garganta e do nariz. Dito isto (e não é pouco) Retirei-me quasi louco De paixão, que é de matar. Mas palpita-me que um dia, Consummida esta poesia, Pés de burro eide apanhar! P. S. O auctor desta obra é uma pessoa honesta, que reconhece Deus no ceo, e o ridiculo na terra. Não crê no representante de Deus entre os homens, por que não quer ultrajar a divindade; mas confessa que o demonio tem um representante em cada freguezia, sem attribuiçoens no codigo administractivo, mas funccionario muito superior aos regedores e juizes eleitos. O auctor accredita que o diabo não é tão feio como o pintam, e reputa-o, nas suas elevadissimas intuiçoens, como um espirito que se ri desentoadamente das muito parvas evoluçoens da humanidade. O auctor ousa declarar-se commissionado provisoriamente desse espirito do sarcasmo, e não poderá d'hora em diante irrogar injuria a quem lhe chamar «alma do diabo.» Conscio da missão que lhe é delegada, o auctor intenta uma publicação semanal, que será uma pagina que o Lucifer do seculo XX receberá da mão do Lucifer do seculo XIX. A geração, que vai levantar-se sobre os tumulos da geração que se esconde na grande valla d'uma epocha, virá estudar a nossa biographia nessa obra que o auctor intenta. Quem quizer assignar para ella fará um serviço aos seus netos. PROSPECTO. UM BICO DE GAZ. JORNAL SEMANAL. Assignatura por mez: 160 réis. O jornal é distribuido aos sabbados; e assigna-se No Porto--em todas as lojas onde se vende este folheto; Lisboa, Coimbra, Vizeu, Lamego, Vianna, e Braga. Admittem-se correspondencias que attinjam a missão rasgadamente civilisadora deste jornal. É preciso que a luz da intelligencia humana deixe de ser alimentada por azeite de purgueira. O espirito reclama um bico de gaz. E o auctor tem a vaidade de reputar-se o Hislop do mundo espiritual. End of the Project Gutenberg EBook of Folhas cahidas, apanhadas na lama, by Camilo Castelo Branco *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK FOLHAS CAHIDAS, APANHADAS NA LAMA *** ***** This file should be named 23486-8.txt or 23486-8.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: https://www.gutenberg.org/2/3/4/8/23486/ Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search) Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. 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